Leituras - “Cartas a Um Jovem Poeta” Rainer Maria Rilke

“Cartas a Um Jovem Poeta” Rainer Maria Rilke – Antígona


Acabo “Cartas a Um Jovem Poeta” de Rainer Maria Rilke com tradução de José Miranda Justo na Antígona.
Talvez o devesse ter lido na adolescência, mas enfim agora, mais vale tarde do que nunca.
Rilke, secretário de Rodin, e as cartas a Franz Xaver Kappus, que se fosse fictício teria porventura mais valor literário, tipo Borges.
Quanto a encarar a escrita como futuro “admita se teria de morrer caso lhe fosse vedado escrever” muito didáctico mas um pouco melodramático, basta ver Rimbaud.
Mas também algumas pérolas: “Se o seu quotidiano lhe parece pobre, não o acuse; acuse-se a si, diga a si mesmo que não é poeta bastante para convocar as riquezas dele” e “uma obra de arte é boa quando nasceu por necessidade.”
Palavra também aos críticos, que acabamos por ser todos, dos outros, de nós, mas enfim: “As obras de arte são de uma infinita solidão e nada está mais longe de as alcançar do que a crítica.”
E ainda a solidão talvez na mais bonita frase do livro: “Mas talvez sejam precisamente essas as horas em que a solidão cresce; porque o seu crescer é doloroso como o crescer dos adolescentes e triste como o começo das primaveras.” “Ficar solitário, como se ficava solitário em criança, enquanto os adultos andavam para cá e para lá, enredados em coisas que pareciam importantes e grandes.”
Reflexões sobre a solidão necessária e sobre as castradoras profissões: “Não serão assim todas as profissões, cheias de exigências, cheias de hostilidade contra a singularidade do indivíduo.”
Mas também é preciso coragem, a “derradeira forma de elegância” segundo Lobo Antunes se não me engano, e em Rilke: “Temos de aceitar a nossa existência tão longe quanto ela for; tudo nela, mesmo o inaudito, tem de ser possível. No fundo é esta a única coragem que nos é exigida: ser-se corajoso face ao mais insólito, ao mais extravagante, ao mais inexplicável que possa suceder-nos.”
Preparados para tudo?